_ Vendo pedaços de palavras tão fortes e queridas perguntou-se então, mais uma vez, como ela consegue? Ser tão boa no mais simples que faz? Em seu íntimo foi relembrando textos, remoendo vivas, remexendo em si. Lembrou-se de vozes alheias apagadas por sua mistura de palavras tão viciante que chegava a entorpecer. E os olhos esperançosos que só podia imaginar? E lógico, as palavras de surpresa que guardava tão carinhosamente em sua caixinha de joias. Caixinha esta que escondia no bolso e levava consigo para que acalentassem-na sempre que necessário, ou podemos ler simplesmente, possível. E as letras de outros? Aaah, estas serviam de cobertor à noite e as vezes ocupavam o lugar dos ursinhos, que infelizmente já não enchiam metade do quarto. Quem sabe onde estariam... Quem sabe sorrindo com outras crianças ou fazendo de ciscos amiguinhos. Quem sabe... Mas o fato é que a ela já não serviam de consolo. As brincadeiras de antes, tão simples, já não satisfaziam. E as explicações fáceis que já nada explicavam? Assim também era com a pelúcia que antes tão bem confortava.
É... o tempo insiste em usar todo o potencial de suas grandes pernas substanciosas...
E agora podia ver alguns pequenos gestos tortos, e seus muitos motivos. Motivos vivos, motivos vulcanosos, motivos seus. Assim lembrou-se do amor e também de pequenas políticas. Lembrou-se do fel e do gosto muito doce do um bem acompanhado ou quem sabe até do nove que muitas vezes revoltado por não ser dez brilhava muito mais. Brilho cor de mel, com gosto de mel e cheiro também. Talvez com mel demais... Com o cair das folhas, o doce perdeu-lhe a graça. Perdeu-lhe a pose e os rodopios simétricos. Perdeu-lhe o rosto de porcelana e a postura de bailarina. Perdeu-lhe o som, perdeu-lhe a canção e a melodia. Então perdida, no escuro assustador dos ouvidos, sentiu-se só. E tão só consigo viu seus gritos ecoando, quentes, pelo corredor. E de suas cores notou os pontos fervilhantes de revolta, os pontos ácidos de críticas, os pontos viris de metáforas. Metáforas tantas que afogava-se entre cadeiras, comidas e ventiladores. E no meio de tanta bagunça pode notar enfim que seus olhos fortes e suas mãos macias de dedinhos pequeninos estavam ali pra mexer com o de fora, não o de dentro.
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