domingo, 15 de agosto de 2010

Lágrimas de Céu

Cercada pela sombra escura da noite caminhei, sozinha, pela trilha já tão corriqueira e habitual. Caminhei pelas pedras pequenas e pouco irregulares. Caminhei silente, mas com um sorriso que gritava toda a paixão insistente na transbordância de meus olhos. Que gritava revoltoso, toda a repugnância de minh'alma com o amor fútil e a aliança fugaz de amantes impuros do mundo sujo que criaram. Que gritava toda a liberdade de algemas que nunca arrocharam meu corpo. Que gritava toda a leveza das gotas que se esvairiam de espaços negros tão mais altos que os arranha-céus.

Foi um sorriso doce que se escapulia sapeca, como uma criança que insiste em correr mesmo nem sabendo andar. Uma criança que correu, que corre e que voa de vez enquando. Como agora, quando as palpebras fecharam-se e os braços deslizaram rápidos pra logo em seguida planarem calmos e serenos. Como agora, uma criança vivaz que insiste em correr pra tão longe, tão distante, que nem andando conseguiria calcular. Que nem voando saberia quando chegar. Que corre mesmo não sabendo onde pisar. Que vai, vai, e enche o peito de um ar resvaladiço, passageiro contrário a sua direção. E se enche dele, deixa-se dominar até que nada mais não caiba lá. Até que suas pernas ardam e a curva esteja próxima. Então para e olha pra trás, olha o que deixou e consente que dancem pelos lábios deleitosos sabores de passado e saudade.

Enfim sigo andando com o sereno fino da madrugada de companhia e o pulso forte que não me deixa esquecer do quanto lágrimas de céu me fazem bem. De como esses brilhos que me encharcam a pele a fazem sorrir e vibrar com a perspectiva de novos dias. Ou noites.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

" You know that I can use somebody "
someone like you and all you know, and how you speak.




Mentira, a quem quero enganar? Eu não quero ninguém pra ocupar seu espaço. Nem você. Eu só quero meus risos que nem sei quando te dei e o meu velho amor que nem vejo mais ao cruzar os mesmos corredores. É só a antiga rotina, não essa bagunça que revirou meu quarto e carregou minha alma pra tão longe que nem sei... Eram só as mesmas páginas e a minha imaginação.
E não paro de me repetir o que sempre soube: não seria você. Mas a falta dos amigos de sempre e das pipocas à tarde, a falta de deixar alguém entrar e me distrair, mesmo que por algumas horas, faz meu coração que nem é seu levantar de vez em quando se te vê.
Eu só queria uns dias na praia e aquela companhia que nunca vai me lembrar de você ou de qualquer outro.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Palavrões à Parte

Essa arrogância e o deboxe estampado à humanidade...
Você me irrita.
Elas te amam.
Gostam de acreditar que com elas será diferente. Gostam da ideia de chegar onde ninguém foi. Gostam do doce sabor de ilusão de seu veneno.
Você as corroe.
A cada palavra dura, a cada enfrentamento.
As que te largam pelo caminho, paciencia, fracas oportunidades...
As que te importunam... Talvez você aproveite pra mostrar o quão mau pode ser.
As que por algum acaso te interessam... Bem, essas você pode até iludir a si mesmo que talvez possam te satisfazer. Mas depois de um pouco, depois de olhos brilhantes e sorrisos, depois da conquista fácil e de muitas palavras que parecem meias, você por dentro grita e sua alma destrói os grilhões novamente.
E assim você segue os dias, passa suas horas pessimistas tentando se lubridiar com diversões. Contudo, continua procurando o lago fundo onde seus olhos um dia já se afogaram. Vai enganando a lixa em suas entranhas que tenta polir o que já foi liso e cintilava com o amor.

Quero Mérito

Eu já entendi. A pose de bom moço... A total pose de bom moço não agrada. Não agrada, pois não serve de incentivo. Não existe luta, não há de verdade emoção. Não é só uma batalha ganha em uma guerra. É uma guerra ganha em uma batalha. É segurança demais. Ou talvez prepotência...

O caso é que quando se tem tudo na mão a desvalorização vem a galopes. Quando se tem nas mãos uma segurança que não é só sua, que pode ser de qualquer uma que dê um pouco de atenção, quando precisa mais de uma companhia que de sua companhia, a atenção para de valer a pena. Sua vantagem parece pouca perto do púrpura derramado pelo brilho alheio. O cintilar doce e calmo de um amor simples não parece reluzir tão bem com uma armadura forte e enferrujada. O que se tem é muito pouco ou quase nada.

Apesar da boa intenção, da vontade de querer, o fervor quente e úmido da paixão precisa mais que um pouco de mel pra saciar. Precisa de fogo, precisa de seda e precisa até de um pouco de dor. Tem que arder mesmo que frágil. Tem que aprazer mesmo que rude. Tem que te seduzir e te largar só quando em multidões.

Tem que valer a pena mesmo que não valha nada. Tem que ser seu. Mas com mérito.

Lóri

" Lóri, pela primeira vez na sua vida, sentiu uma força que mais parecia uma ameaça contra o que ela fora até então. Ela então falou sua alma para Ulisses:
- Um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa mas seremos um só.

Olhou para Ulisses com a humildade que de repente sentia e viu com surpresa dele. Só então ela se surpreendeu consigo própria. Os dois se olharam em silêncio. Ela parecia pedir socorro contra o que de algum modo involuntariamente dissera. E ele com os olhos miúdos quis que ela não fugisse e falou:
- Repita o que você disse, Lóri.
- Não sei mais.
- Mas eu sei, eu vou saber sempre. Você literalmente disse: um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa mas seremos um só.
- Sim.


Lóri estava suavemente espantada. Então isso era a felicidade. De início se sentiu vazia. Depois seus olhos ficaram úmidos; era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu faço?
Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta. Não. Não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo. "
(Clarice Lispector - Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Somos

" A verdade é que somos sempre muito invejosos para compartilhar da felidade dos outros e pensamos ser generosos o suficiente para entender a dor alheia. "

Fátima

" Vocês esperam uma intervenção divina mas não
sabem que o tempo agora está contra vocês;
Vocês se perdem no meio de tanto medo de
não
conseguir dinheiro pra comprar sem se vender;
E vocês armam seus esquemas ilusórios, continuam
só fingindo que o mundo ninguém fez!
Mas acontece que tudo tem começo, se começa um
dia acaba, eu tenho pena de vocês... "