Cercada pela sombra escura da noite caminhei, sozinha, pela trilha já tão corriqueira e habitual. Caminhei pelas pedras pequenas e pouco irregulares. Caminhei silente, mas com um sorriso que gritava toda a paixão insistente na transbordância de meus olhos. Que gritava revoltoso, toda a repugnância de minh'alma com o amor fútil e a aliança fugaz de amantes impuros do mundo sujo que criaram. Que gritava toda a liberdade de algemas que nunca arrocharam meu corpo. Que gritava toda a leveza das gotas que se esvairiam de espaços negros tão mais altos que os arranha-céus.
Foi um sorriso doce que se escapulia sapeca, como uma criança que insiste em correr mesmo nem sabendo andar. Uma criança que correu, que corre e que voa de vez enquando. Como agora, quando as palpebras fecharam-se e os braços deslizaram rápidos pra logo em seguida planarem calmos e serenos. Como agora, uma criança vivaz que insiste em correr pra tão longe, tão distante, que nem andando conseguiria calcular. Que nem voando saberia quando chegar. Que corre mesmo não sabendo onde pisar. Que vai, vai, e enche o peito de um ar resvaladiço, passageiro contrário a sua direção. E se enche dele, deixa-se dominar até que nada mais não caiba lá. Até que suas pernas ardam e a curva esteja próxima. Então para e olha pra trás, olha o que deixou e consente que dancem pelos lábios deleitosos sabores de passado e saudade.
Enfim sigo andando com o sereno fino da madrugada de companhia e o pulso forte que não me deixa esquecer do quanto lágrimas de céu me fazem bem. De como esses brilhos que me encharcam a pele a fazem sorrir e vibrar com a perspectiva de novos dias. Ou noites.