sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Um só

Mas fazia tempo que sua mente girava por outros turnos. Que falava por outros tons e cantarolava outras canções.

As palavras continuavam em um canto escondido e meio empoeirado procurando se recompor e encontrar uma outra saída. E ela lá, com os fios bagunçados, os lábios já nem tão sorridentes assim e aqueles dedos a tamborilar sobre qualquer objeto. Intrínseca mania paranoica. Entrincheirada sobre os escombros de sua própria paz. Buscando em vão cair em correntezas que a tirassem de sua própria. Acompanhando noticiários mais pessoais que a maioria dos que cumprimentava pela rua. Cumprimentos... Sempre tão opacos e perdidos. Como se todos buscassem por respostas impossíveis de se ver no olhar alheio. Esquecendo-se dos espelhos de suas próprias almas. Esquecendo-se de ser pra quem são e mendigando respostas pra seus quadros sujos e borrocados pelas paredes.
Achando luzes vermelhas por todas as ruas, casas violadas por seus próprios criadores. Fantoches espalhando sorrisos impuros por caminhos desertos e completamente subjugados a pessoas más. Braços e pernas vibrantes de uma doença rechaçada por sua mente sã. E no meio de tanta loucura, passos combinados de pessoas carentes e submissas à exibição.
E de repente seu sorriso torto. De um de repente contínuo e obstante, perplexo e fugaz, cumpridor e piedoso. De repente a contenção de uma gargalhada insana. E de repente berros ocos. Contudo a louca que seria levada ao hospício era a mais sã das mentes presentes. E de repente o presente flagelado de toda uma civilização. E de repente só. Um só sem solidão. Um só sem dor. Um só de certeza pela insensatez de um mundo ao qual não merecia pertencer. Um só.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

E agora?

E agora sua voz a assobiar pelos fins de tarde ou mesmo em alguns sonhos pela manhã. E agora a lembrança vaga do desespero seco e a certeza amarga da hesitação, da falta de credibilidade, das minhas dúvidas...
E agora dois meses e as suas letras prestidigitosas, sorrateiramente, invadem mais uma vez meus minutos e as horas entre eles.
E agora tudo que eu não quero mais acreditar e tudo que não me foi explicado. E agora meus olhos vagueantes e a vontade bravia de entender tudo o que você não quis dizer. E agora meus sorrisos que forço pra conter e o escárnio da não-necessidade.
E agora vai e some. E me deixa com o abandono a me acompanhar. Deixando-me enfim sussurrar velhas canções em outros ouvidos e esquecer que um dia elas só me fizeram lembrar de você.

Labirinto de Palavras

O que ouço é alegre e melodiosamente agradável, mas minhas palavras parecem chorar.
Gotas escorrem fortes,
mas em meu peito nem uma mão sequer. Nada me aperta, só um vazio assobiante continua a perseguir.
Ouço vozes lá fora, mas nada compreensível ultrapassa minhas barreiras.
As pontes foram levantadas, alicerces erguidos, e agora?
E agora nada?
E agora cai?
E agora um vento forte que destronou o próprio trono?

E agora um sonho dentro do sonho.
Ou talvez só o meu labirinto de palavras
...