Acordei cansada. Cansada por um dia que nem ao menos havia começado. Cansada por um ano denso e cheio de laços mal acabados que dirá desfeitos! Cansada por uma vida curta, mas com muitas, muitas histórias longas e nem sempre reais.
Cansada dos carros, das pessoas e das situações. Cansada das paradas, das queixas e até do sono pela tarde. Cansada da rotina dura e segmentada. Cansada do parar que nunca significa parar. Que é só um descanso insignificante no meio da confusão que a vida se tornou. Que significa continuar uma merda de rotina que não te leva a lugar algum. E continua te deixando parado. Independente do quanto você corra, do quanto você faça. Que te transforma em uma estátua ambulante. Com um monte de sorrisos montados e movimentos automáticos.
Acordei, contudo a vontade de abrir os olhos não me acompanhou. Quis continuar assim, deitada, ouvindo muito pouco do que ainda não começara e de resto sem mais sensações. Talvez o aconchego da cama a me acariciar a pele e o ego também. Ou o gosto seco da boca de manhã. Mas a acrescentar, nada.
Acordei mais uma vez sem rumo, direção, sentido. Acordei sem mim. Sem o que me acompanhar. Acordei com olhos já abertos e tive vontade de fugir. De correr. De gritar. Mas me calei diante de todo o barulho lá fora.
Acordei e vi luzes acesas esperando por seus donos a lhe darem descanso. Acordei e vi cartas sendo entregues, ruas sendo limpas, guarda-chuvas sendo fechados. Eu vi o sol brilhar opaco lá fora. Montes de paisagens sem significado. Li mensagens ocas e verdades vazias. Encarei mentes indiferentes a realidade pobre por todos os lados.
Minha janela tinha olhos grandes e arregalados. Não queria acreditar. Só encarava muda aquele monte de sensações e uma realidade que procurava não enxergar. Fiquei parada assim um tempo, não sei quanto. Enfim um velho passou embaixo da sacada e me sorriu, como se tudo ali fizesse sentido. Depois me encarou e disse:
- A vida é assim mesmo, filha. Um dia a gente para e vê que valeu a pena. Mesmo aqueles dias em que grita como um louco e ninguém te ouve. Até quando toda a tristeza do mundo quer te sufocar. Você descobre que venceu, mesmo que na época não soubesse de quem ou do que. Não precisa parar para perceber isso. Vai acontecer. Mas se antes disso sentir que o tempo pode cessar ou seguir eternamente, desculpe minha filha, mas você morreu.