quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

É só que...

Acordei cansada. Cansada por um dia que nem ao menos havia começado. Cansada por um ano denso e cheio de laços mal acabados que dirá desfeitos! Cansada por uma vida curta, mas com muitas, muitas histórias longas e nem sempre reais.

Cansada dos carros, das pessoas e das situações. Cansada das paradas, das queixas e até do sono pela tarde. Cansada da rotina dura e segmentada. Cansada do parar que nunca significa parar. Que é só um descanso insignificante no meio da confusão que a vida se tornou. Que significa continuar uma merda de rotina que não te leva a lugar algum. E continua te deixando parado. Independente do quanto você corra, do quanto você faça. Que te transforma em uma estátua ambulante. Com um monte de sorrisos montados e movimentos automáticos.
Acordei, contudo a vontade de abrir os olhos não me acompanhou. Quis continuar assim, deitada, ouvindo muito pouco do que ainda não começara e de resto sem mais sensações. Talvez o aconchego da cama a me acariciar a pele e o ego também. Ou o gosto seco da boca de manhã. Mas a acrescentar, nada.

Acordei mais uma vez sem rumo, direção, sentido. Acordei sem mim. Sem o que me acompanhar. Acordei com olhos já abertos e tive vontade de fugir. De correr. De gritar. Mas me calei diante de todo o barulho lá fora.

Acordei e vi luzes acesas esperando por seus donos a lhe darem descanso. Acordei e vi cartas sendo entregues, ruas sendo limpas, guarda-chuvas sendo fechados. Eu vi o sol brilhar opaco lá fora. Montes de paisagens sem significado. Li mensagens ocas e verdades vazias. Encarei mentes indiferentes a realidade pobre por todos os lados.

Minha janela tinha olhos grandes e arregalados. Não queria acreditar. Só encarava muda aquele monte de sensações e uma realidade que procurava não enxergar. Fiquei parada assim um tempo, não sei quanto. Enfim um velho passou embaixo da sacada e me sorriu, como se tudo ali fizesse sentido. Depois me encarou e disse:

- A vida é assim mesmo, filha. Um dia a gente para e vê que valeu a pena. Mesmo aqueles dias em que grita como um louco e ninguém te ouve. Até quando toda a tristeza do mundo quer te sufocar. Você descobre que venceu, mesmo que na época não soubesse de quem ou do que. Não precisa parar para perceber isso. Vai acontecer. Mas se antes disso sentir que o tempo pode cessar ou seguir eternamente, desculpe minha filha, mas você morreu.

domingo, 19 de dezembro de 2010

O que eu tinha pra falar

Vontade de gritar. De dizer que não espero nada do futuro e que posso fazer. Que quero tudo agora e não faz o mínimo sentido esperar. Te repetir que admiração não é amor e não me importa o que parece certo. Que não sei de nada e vou continuar sem saber. Mas não tenho a menor dúvida quanto ao que não quero deixar de arriscar. Que deixar pra ser eu mesma depois é exatamente o tipo de erro ao qual não pretendo cometer mais uma vez. Berrar minha impulsividade até você entender e tapar todos esses buracos que ficaram no caminho entre nós dois. Te abraçar forte com a certeza do que sinto e te pedir pra repetir tudo de quando você não tinha certeza de nada.
Vontade de gritar sem me sentir culpada. Ou de dizer que não mando na merda do meu coração. E que ninguém manda. E que eu já não sei mais o que você quis dizer. E que esse monte de pontos de interrogação não me servem nem de pergunta nem de resposta. E que tudo como está pode ser insuportável às vezes. E dizer que não quero nada, nem seu futuro, nem sua presença, nem suas lágrimas. Só a certeza de que também sentiu o que arrastou o meu peito e o fez vibrar. Que os seus braços ao meu redor foram de verdade e que meu pescoço não imaginou o que sentiu.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

And I don't need...

eu não preciso de sua confusão densa e imprecisa. ou de sua fala insegura e seu jeito leve demais. não preciso de suas dores ou de seus passos na frente dos meus. seus pensamentos muito mais rápidos e contrastantes com o que eu realmente quis dizer. não preciso daquelas palavras que li nem das que sei que já pronunciou. E não, não preciso de outras lágrimas. Não quero as dela. Ou as suas, ou as de ninguém. Já me bastam as minhas que sufocando um dia chegaram a me inundar...

Em minha mente, músicas insistentes no silêncio a espera de seus dedos. Já os meus, ah! Meus dedos brandem ágeis procurando esconder o tremular que só de pensar me vem. Também meu peito vibra, e pede o abraço a me cobrir e transbordar. Uma, duas, quantas vezes quiser... E o pescoço oblíquo espera o toque embaraçado que de doce a bravio nem um segundo separa. Mas que não mais do que isso também duram. E você foge, eu fico. Mas me leva também. E na dúvida me encaro tão lá quanto em qualquer outro lugar. E fecho os olhos buscando algo que me prenda às margens desenhadas. Para logo já não saber quando foi que o gravite deixou os sonhos despertar.

... another kind of green to know: I'm on the right side with YOU. ♪