segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Que Ela Costumava Ser

Ela costumava ser bem melhor, ou nunca repara o quão ruim era. Ela costumava gostar mais de si e ter muito o que dizer. Ela costumava chorar, mas não ia dormir triste. Ela costumava entender o que eles queriam, ou assim ela sempre achou. Ela costumava ser impulsiva, mas bem, isto ela continua sendo. Ela costumava ligar, ou só pedir um abraço. Bom, isto ela já nem precisa mais pedir. Ele sabe quando deve. Mas ele está longe demais, ou mais perto do que deveria. Ele ultrapassa barreiras e invade caminhos que nem ela mesma conhece, surpreende com coisas que ela devia saber. Entra sem pedir, invade sem querer. Toma seus espaços. Ela costumava não deixar ninguém entrar, ou talvez eles só não pedissem licença. Ela costumava não se acomodar e fingir não estar surpresa. Aos poucos ela se acostumava com os pedidos e se esquecia da janela aberta.

Ela costumava saber o que fazer, ou sempre faziam o serviço pra ela. Ela costumava estar no centro, mas conhecia um centro só. Ela costumava abraçar o mundo e conseguir se equilibrar. Ela costumava achar que escolhas a faziam perder, mas aprendeu que escolhas a fazem ganhar. Ela costumava ser rebelde, contudo não tinha causa. Ela costumava ser vaidosa, mas não se meter em encrencas. Ela costumava ser intensa, mas não demais. Ela costumava gostar do ar da manhã, e não sentir só o da noite. Ela costumava ouvir música sem letra, agora escuta letra sem música. Ela costumava ser doce e inteligente, e esconder as gotinhas de limão e esperteza só dentro do bolso. Ela costumava tomar partido dos oprimidos, mas não estar ao lado deles. Ela costumava gritar a sua vontade e ter o que queria, mas não ficar descontente assim também. Ela costumava se enterrar na areia e depois fugir pro mar. Ela costumava entender quando evitavam-na, mas não eram seus amigos que costumavam se afastar. Ela costumava entender quem andava com ela, agora ela só sabe quando andam. Ela costumava saber se divertir, ou pelo menos escapar. Ela ainda sabe escapar, mas não costuma se divertir com isso. Ela costumava saber a hora de parar; ela continua sabendo, mas já não consegue se conter. Ela costumava ser muitas coisas, ela ainda costuma ser. Mas já não é como antes.

terça-feira, 25 de maio de 2010

She is!

" She's a rebel,
She's a saint,
She's salt of the earth
And she's dangerous. "

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Nos Olhos do Gato

A solidão vinha com um gato silente e manhoso. Agarrando-me pelas pernas. Prendendo-me ao chão frio. Deixando-me com as cartas mal embaralhadas e um sorriso tosco pelo rosto.
Enquanto seus olhos tristes tocavam-me o coração, sorrateiros amontoavam toneladas de desespero aos meus pés. De onde vinha tanta infelicidade? Um gato tão manso... Condenado a arrastar consigo todo o mal-estar possível. Era como um alcoólatra. Compulsivo. Trazendo-me todo aquele lixo como sacos de suculosas frutas. Doces. Mortais. Contaminadas com veneno pra alma. Programado para desfibrilar todo o composto etéreo de meu brilho. Suas garras afiadas fatiavam minha paz, furtavam-me a esperança e desligavam o som.
Depois da dor seu pelo macio afagava-me com uma doçura insuportavelmente embusteira. Era assim, mordendo e assoprando, que me dominava.

Tornou-me dócil como seu suposto perfil.
Enfim enfeitiçou-me.
Marionete de suas dores me tornei.
Vendedora de suas ilusões.
Enfeitei seus brinquedos, fi-los vender. Aaaah... e como solidão fantasiada vende! Todos adoram histórias de pobres amordaçados para descontrair.
Serva de minha própria rotina.
Robô de meus próprios comandos.

Ordens programadas levaram-me por outdoors rasos e superficiais. Contudo, apesar de simples, as mensagens trouxeram-me as velhas chamas das palavras. Letras enfileiraram-se por caminhos sinuosos conduzindo-me a brumas distantes e tochas soberanas. Incendiaram minhas lembranças. Os olhos refletindo o pôr-do-sol... Um suspiro úmido soprando-me pequenas verdades... O grito selvagem das ondas do mar...
Dias silenciosos... E o gato que definhava pelos cantos. Derrubando as paredes mudas que cercavam-me como torres assombradas. E então o sussurro breve anunciou a sentença:
_ Quem tem fé sabe que não está sozinho.
E de repente, de pequeno o gato virou nada, nem um último miado a me assombrar. Somente um ronronar em meu corpo anunciando o fim.

domingo, 16 de maio de 2010

Ai, que vontande de escrever...

JJ. diz:
*ai que vontade de escrever :/
H. diz:
*escreve amor
*vai no blog
*e detona
*põe pra fora
*xD
JJ. diz:

*mas não sei o que escrever :~
*AHHIOAEHIOEAHOEHIOOAE
H. diz:
*o0
*lol
JJ. diz:

*só vontade ._.
H. diz:
*aFDJAEjfaeoihfaef
JJ. diz:

*vontade que vem e não passa ._.
*que vai crescendo, devagarinho, e se escondendo nos espacinhos do meu dia...
*no café da manhã e o passarinho que cantou lá fora
*e eu que nem vi voar...

JJ. diz:
*e na roupa que vesti antes de ir pra aula, e o pingo de tinta que misturou-se a ela e que nem notei ._.
H. diz:
*ahh
*continua
*._.
*eu tava aki esperando
*a próxima frase
*=(
JJ. diz:
*eu estava abrindo o word, mas mas mas...

H. diz:
*por favor?
JJ. diz:

*aaah... :S
H. diz:
* vai vai vaaai?
JJ. diz:
*'tá bem...
*então, onde eu tinha parado mesmo?

JJ. diz:

*aaah sim, e na manhã, nas pessoas andando apressadas pela rua, algumas até correndo....
JJ. diz:

*sei lá pra onde, às vezes é só atraso... quem sabe atrás de um beijo que esqueceram no vizinho ou da chave que ficou pra fora da fechadura.
*às vezes estão só seguindo o mesmo caminho de sempre, puro hábito, rotina que vai servindo de caminho, e vai levando, e levando... E me trazendo aquela vontande...
*aquela que vou escondendo pelos vãos e frestas que me perseguem e que é a mesma que vejo atrás do sorriso do carteiro;
*e aquelas que vem saltitantes pelas pedrinhas da rua,
*e que me cantam aos ouvidos,
*as notas leves e frias da manhã.


Aquela que me aparece nas árvores, bem encima dos galhos, aquela mesma que me faz abaixar ao passar pelas folhas cá embaixo, mas que nem ficam tão embaixo assim.

E meus pés agora tão próximos do destino! Entro sem nem perceber, e o ‘bom dia’ que não recebi vai ficando pra trás... Junto com a vontade de esconder as letras que vão brotando ali, pela grama, que vão se escorrendo nas paredes, rolando escada abaixo. E ali, pelo chão, pelos olhos, pelas mesas...

Sem demora já vejo vontade por todo lado! Pelas salas, calças e camisas. Pelos corredores, casacos e sapatos. E meus tênis vão subindo, subindo... E sozinhos querem alcançar o telhado, subir no terraço, misturar-se as nuvens....

Lá em cima venta, e com força meus cabelos batem. Formigam-se por responder o soluçar das brumas, que continuam a espalhar seus finos traços banhados a saudosismo e vontade. Vontade essa que chora e grita, esperneia e berra, que corre a me abraçar.
Que me toma e me cega, me leva pra longe; me amarra, me prende, me tira os sentidos. E tão feroz como vem, passa. Deixa-me só, corre o coelho à sua toca. Meu tempo se vai, meu desejo se põe. Enquanto o triste sol de inverno, lá em cima, sorri e me toca, feliz com a brecha nas nuvens.

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post nada bom, mas ainda sim pro meu heath, por ele que sempre me fazer lembrar o quão doce a vida pode ser, e por me amar assim, só por eu ser, como devo ser.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Quase Amor!

" Como são tristes os pactos silenciosos entre aqueles que quase se amam! Que se seduziram, se tentaram, mas, por algum motivo anterior a ele, não se consolidaram amantes. Eles se encontram numa porta de cinema - entre um ou outro amigo em comum -, ora os dois sozinhos, sabendo-se comprometidos; ora um acompanhando, em desvantagem de olhar; ora os dois em casais, como no velho pagode: "ela e o namorado dela, eu e minha namorada". E não há o que dizer.

Há o pensamento - indômito! -, ávido por devanear hipóteses e, logo, abafá-las em algum lugar remoto entre o arrependimento e a esperança. O qual manda a razão chamar de sensatez. Como teria sido minha vida com ela? Como teria sido com ele? Se ao menos aquele jantar tivesse acontecido... Não há tempo verbal mais angustiante - e paralisante - que o futuro do pretérito. Até quando ele vai ter a chance de ser o futuro do presente?

Ex-amores tiveram a sua. Não aproveitaram. Vivem sob o consolo do inevitável, do “não era para ser”, “não dá”, “então diga que valeu”. Quase amores não valeram, ora. Não foram. Não voltaram. Ficaram entalados ali, mesmo quando correspondidos. Correspondidos no quase. No “peraí que eu já volto já”. O quase, como o amor, é infinito enquanto dura – mas dura mais. Pode doer menos, mas jamais se esvai. É o triunfo da fantasia sobre a realidade e suas lembranças. Da saudade do que nem começou sobre a saudade do que já se foi. É o pênalti perdido, a bola que não entrou.

Fica.

Por um “erro” de cálculo do destino - para não dizer, às vezes, nosso -, não aconteceu. Nunca se ajeitou o tal do timing. “Melhor assim”, dirão aqueles em cuja mentira preferem - ou precisam-crer, todos mestres em colocar defeitos naquilo - e naqueles - que não possuem. É o mecanismo de defesa da vida que segue, da bola pra frente, do vamos com tudo que a carroça – mais que a fila – tem que andar. E talvez elas – as carroças – se esbarrem mesmo lá na frente, onde o silêncio poderá ao menos dar palavra a um gesto, embora não, não nos guiemos pela possibilidade, sabe-se lá vindoura.

Como são tristes os pactos silenciosos entre aqueles que quase se amaram! Eles trocam pensamentos ininteligíveis uns com os outros, e depois, descaradamente, se viram para seus atuais – e quiçá vitalícios - amores – ou tão somente amores, grandes amores, quem dirá que não? -, num abraço arrebatado de uma saudade que não lhes pertence, ou num telefonema carregado de um desejo que não despertaram, como se descarregassem silêncios antigos em quem agora lhes é de direito. Ah, como são verdadeiros os falsos gestos de amor! O que seria amar senão descarregar em alguém todo – ou quase todo – o nosso amor acumulado? Sorte a de quem passou do quase, e tem hoje quem o descarregue em si. "


(Felipe Moura Brasil)
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ook, ook, já sei: recaída. tudo bem, tudo bem. 'tá tudo super estranho né? (:
mas aqui é novo, é diferente. e apesar das lembraças do primeiro/segundo ano formigarem na garganta o pacto silencioso continua... haha, aah, tudo que poderia ter sido...