Ela costumava ser bem melhor, ou nunca repara o quão ruim era. Ela costumava gostar mais de si e ter muito o que dizer. Ela costumava chorar, mas não ia dormir triste. Ela costumava entender o que eles queriam, ou assim ela sempre achou. Ela costumava ser impulsiva, mas bem, isto ela continua sendo. Ela costumava ligar, ou só pedir um abraço. Bom, isto ela já nem precisa mais pedir. Ele sabe quando deve. Mas ele está longe demais, ou mais perto do que deveria. Ele ultrapassa barreiras e invade caminhos que nem ela mesma conhece, surpreende com coisas que ela devia saber. Entra sem pedir, invade sem querer. Toma seus espaços. Ela costumava não deixar ninguém entrar, ou talvez eles só não pedissem licença. Ela costumava não se acomodar e fingir não estar surpresa. Aos poucos ela se acostumava com os pedidos e se esquecia da janela aberta.
Ela costumava saber o que fazer, ou sempre faziam o serviço pra ela. Ela costumava estar no centro, mas conhecia um centro só. Ela costumava abraçar o mundo e conseguir se equilibrar. Ela costumava achar que escolhas a faziam perder, mas aprendeu que escolhas a fazem ganhar. Ela costumava ser rebelde, contudo não tinha causa. Ela costumava ser vaidosa, mas não se meter em encrencas. Ela costumava ser intensa, mas não demais. Ela costumava gostar do ar da manhã, e não sentir só o da noite. Ela costumava ouvir música sem letra, agora escuta letra sem música. Ela costumava ser doce e inteligente, e esconder as gotinhas de limão e esperteza só dentro do bolso. Ela costumava tomar partido dos oprimidos, mas não estar ao lado deles. Ela costumava gritar a sua vontade e ter o que queria, mas não ficar descontente assim também. Ela costumava se enterrar na areia e depois fugir pro mar. Ela costumava entender quando evitavam-na, mas não eram seus amigos que costumavam se afastar. Ela costumava entender quem andava com ela, agora ela só sabe quando andam. Ela costumava saber se divertir, ou pelo menos escapar. Ela ainda sabe escapar, mas não costuma se divertir com isso. Ela costumava saber a hora de parar; ela continua sabendo, mas já não consegue se conter. Ela costumava ser muitas coisas, ela ainda costuma ser. Mas já não é como antes.