quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

De Vez Em Quando

Porque de vez em quando, só de vez em quando, a gente fica assim. Para assim. Sente assim. E se pergunta o que fez de errado e o que não deu certo. O que a gente não sabe é que não houve nada errado, nada que poderia dar certo. Tudo aconteceu como deveria ser, e se não deu, não deu. Não é culpa do que fez com outros, não é sua culpa, não é culpa de ninguém. Só não deu certo. Só não aconteceu tudo ou qualquer coisa que você queria que acontecesse. Só não acompanhou sua imaginação. E se é pra colocar culpa em alguém, que seja nela. Nela que pensou e não fez, nela que te iludiu e se esqueceu que não podia cumprir. Nela que disse e não falou. Nela que continua com um monte de dúvidas que você não pode, ou não quer mais ter as respostas, simplesmente porque não faz mais sentido, ou talvez nunca tenha feito.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Ela e ele

Ela gostava de dias chuvosos. Ele adorava suas pernas. Ela se lembrava das luzes fracas e o primeiro toque, um leve ressoar pelo pescoço. Ele lembrava do escuro, e de beijos e de coxas. Ela sentia medo. Ele não queria solidão. Ela era um mar de palavras. Ele uma brisa de verão. Ela buscava encontros, ele paixão. Ela queria sorrisos, ele algo parecido com razão. Ela queria entender, ele por outro lado... só queria sentir. Mas não demais por favor, porque depois do fim da estação... quem sabe mais um ano ou dois, a gente não tem como imaginar quando vai se encontrar mais uma vez, não é?

domingo, 11 de dezembro de 2011

Perfeitamente normal

É que tudo lá fora parece estranho, é como se ninguém fosse realmente compreender. É como se outras palavras não fossem sair da minha boca. E o que eu quero dizer saísse da sua. É como encontrar algo para se conquistar passo a passo. Cada momento. Cada sensação. Sem toda essa pressa, essa correria que vive me perseguindo e me levando a crer que talvez eu é que não esteja acostumada, mas as coisas sejam assim. É como perceber que eu nunca coube nesse papel de coitada ao qual costumo interpretar. De burra, boba e ligeiramente imoral. É como se eu só precisasse ser eu sem parecer louca dessa vez. Sem achar que é querer demais alguém que tenha conversas sobre coisas que realmente valham a pena, não esse jogar papo fora pra não perder contato, ou esse sexo verbal enquanto não posso te ver. Palavras de verdade, palavras de alguém que se importe em não parecer ridículo. Mas se importe de não parecer esse ridículo que todo mundo insiste em taxar de ideal, um gato que te satisfaz. Não, eu não vim aqui pra isso. Eu vim pra dizer que por mais que tente me convencer que me encaixo nisso tudo que vocês juram chamar de amor, alguém sussurrou no meu ouvido que o que dizem não precisa ser verdade. E que eu posso fazer sentido sem nada disso.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Mais ou Menos

Afinidade acontece. Um mesmo signo, um mesmo par de sapatos caramelo, um mesmo livro de cabeceira. Afinidade acontece entre seres humanos. A mesma frase dita ao mesmo tempo, o diálogo mudo dos olhares e a certeza das semelhanças entre o que se canta e o que se escreve. Afinação acontece. Um mesmo acorde, um mesmo som, uma mesma harmonia. Afinação acontece entre instrumentos musicais. A mesma nota repetidas vezes, a busca pela perfeição sonora e a certeza das similaridades entre um tom acima e um tom abaixo. A incrível mágica acontece quando os instrumentos musicais descobrem afinidades humanas entre si no mesmo instante em que os seres humanos descobrem afinações musicais dentro deles mesmos. - Teatro Mágico

Eu adoro essa poesia, e de repente fez todo o sentido postá-la. Passeando por redes sociais acabei na página de um cara da minha sala na faculdade. Ele tem um gosto musical incrível, gosta de bons livros e tem paciência pra conversar. Conversar de verdade, sabe? Ele é um cara legal. Mas enfim, passando por seu profile, vi um vídeo de uma música que adoro, do pixies, postada na sexta. E o mais engraçado, que é o ponto alto da questão, é que... bem... eu também tinha postado a mesma música, no mesmo dia, no meu profile. E eer... eu definitivamente não tinha visto que tinha um post dele com aquela música, então fui procurar a hora que ele havia posto o vídeo, que devia ser depois da do meu, afinal, ele até curtiu a minha publicação. Mas... não. Ele tinha postado horas antes de mim. E eu nem ao menos tinha visto. É engraçado como de vez em quando... afinidade acontece. Assim, com coisas... irrelevantemente atraentes. Era só uma música, e continua sendo. E mesmo assim... afinidade acontece de maneiras no mínimo... inesperadas, ou até mesmo... encantadoras.


ps.: o nome da poesia é 'mais e menos', porém, contudo, todavia, no decorrer desta incríiiiiiivel trama, achei que o nome proposto cabia melhor na ideia... entonces... sabe como é né. era só isso. (:

Yellow

Paixão pelo que se faz, sorte pelo que se tem. Razão que te toma tudo. E olhos e chamas e o que eu não quero ver. São tantas palavras... Tantas imagens ou mesmo momentos que se repetem quando só o que desejo é esquecer. Porque nunca é simples. Porque nunca é puro. Porque não digo, e assim fujo imatura do que ainda me passa sempre de raspão. Dessa vez foi quase, rapaz. E quem diria que eu nem precisaria me esforçar no final. Foi mais simples porque você se foi. E doeu mais porque não fui eu quem decidi. E no fim gosto de me iludir que sou sempre eu quem decido. Então meu peito pede pra você vir de novo, me fazer feliz essa noite e deixar te machucar amanhã, pra nunca mais querer voltar. Pra dizer que quase amou, mas que eu era louca demais pra suportar. E sim, eu quero te ferir. E assim vou me ferindo também, bobinho. Porque é assim que faço. Vem no mesmo pacote que o sarcasmo e a vontade de beijar sua boca. No mesmo em que só participam caras com mais de 400km de distância e paixonites que chegam a durar até alguns meses... Então... vê se não me esquece tá? Ou quem sabe venha morar na minha rua pra variar um pouco. Talvez eu demore um pouco mais pra me cansar de você...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Garotos

" Garotos gostam de iludir
Sorrisos, planos, promessas demais!
Eles escondem o que mais querem:
Que eu seja a outra entre outras iguais...
São sempre os mesmos sonhos de quantidade e tamanho...
(...)
Talvez você seja melhor que os outros,
Talvez, quem sabe goste de mim...
(...)
Garotos perdem tempo pensando
Em brinquedos e proteção,
Romance de estação,
Desejo sem paixão
... "

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sonho Bom

Você trocou de tempo e de amor, de música e de ideias (...) mas em si, nada vai mudar (8)

E do inesperado enfim, surge-me azul um céu de estrelas.
E é sua boca, seus olhos e o final dado por mim;
E é o grito, o escárnio e a dor que eu jurei não sentir
E não sinto, não me tem.

E eu ouvi outra vez as mesmas palavras com vozes distantes e novas.
E eu ouvi dizer que existe um mundo lá fora diferente de tudo que tenho dentro de mim;
E talvez eu vá buscar, algo que já não me jure perdão e sim sutilezas.
Alguém de vermelhos e imaginação que vem saído de algo mais que só um sonho bom.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Meu Socorro

E agora chove em mim.
Agora chove, e não foi você.
Agora chove e eu vejo o sinal de uma estranha, a qual me pego seguindo conselhos.
Agora chove lá fora e há mais alguém a me esperar nesse lugar que também era seu.
Agora chove e não te busco no fim.
Chove, chove e chove e é só a minha alma que foi salva dessa imensidão a qual me enfiou. Onde me procuro em fagulhas de desespero suas. Que, agora, o único sentimento que me trazem é de dó ou de perdão. Sim, piedade pelo que não viveu, ou pelo o que sentiu. Ela te faz falta e eu não posso te tirar disso. É o que você busca ter. E o que me disponho a dar. E talvez, você não saiba mais, mas ela também sente a dor de tudo o que houve. Mas pra ela é diferente, é raiva por não tê-la salvado, enquanto nem a si mesmo consegue salvar. É paixão de quando insuficiente se torna tudo o que passou. E você... aah, você quer mais, quer ela, seu rosto, seu corpo e seus gritos. Só não busca sua fiança e os berros de insegurança que já não ouve mais. E tenta seguir em algo que me fere, e ao meu ego... piedade. Porque é assim que me dói. Uma dor mansa de quem não acredita nos olhos, mas te come buscando outra saída que não seja minha vontade só. E você grita minha indiferença e sussurra socorro. E eu me calo sua indiferença e te grito socorro. De uma salvação que sempre nos foge porque não a queremos. De noites que gritam nosso corpos propensos. E das manhãs que nos voltam a gargalhar, prepotentes, pelo que sabem não poder nos dar.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

" Mas se você olhar vai ver
que tudo está errado
porque ao seu lado
não existe um lugar para mim... "

domingo, 13 de novembro de 2011

Das Duas Às Cinco

É o escuro. E a lembrança. Meus olhos escorriam e eu nem ao menos via os seus.
Quente, frio, ou seja lá mais o que exista, quando foi que esqueci o que senti?
O fato é que é só meu, o que fato é que é só nosso. E que ninguém mais vai lembrar. Ou mais ninguém pode sentir. Os dedos. Os ombros. Sua boca. A minha. E a madrugada em que fugi. De mim mesma. Da casa. Da vida. E me deixei ser, só sentidos. E até meus sentimentos resolvi que devia esquecer. Mas só de tentar, me lembro. E me lembrei aqui, depois de você, depois de mim. Depois do que não consegui abandonar. Do que descobri não ter. Do que sinto falta de ouvir. Do que nunca cheguei a te dizer. Me lembrei do que eu quero. Me lembrei de tudo mais. Eu quero o mundo e algo assim. E aqui estamos, só nós dois. Ou só eu e só você. A sós. Querendo encontrar de novo algo que nos dê sentido e não nos abandone. E nos faça mais uma vez tudo aquilo que um dia quisemos ser.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

É o som da água caindo. É o seu sorriso que não me diz nada, mas vive cantando por aí algo que me faz lembrar.

Sonho

Castanho claro. Dourado. Loiro escuro. Meus dentes brancos. Seus movimentos toscos. Suas frases sem significado. Seus amigos bobos. Suas costas. E eu de longe. Passos firmes. Minha concentração desatenta. A ti vejo, ao mundo sinto. Olhares ignoro. Presenças despresentes. Sorrisos dessorridos. Te toco, te esbarro. Seus olhos. Os meus. Meus lábios, os teus. Um beijo. Um abraço. Te olho, me vejo. Eu saio, não viro. O que me prendia ali se foi. Te busco em mim, me encontro. Ar puro, os olhos. Escuro. Eu vejo. A luz que vem. São as pálpebras que abro. Eu sinto. O vento. O céu. E todas as estrelas que nunca vou entender.

Junto com o cinza da gente

E lá vou eu mais uma vez perdida entre discursos vazios e sorrisos despidos de qualquer sentimentalismo. Talvez todos esses ensaios de vida, sirvam ao menos pra convencer plásticos envaidecidos por seus movimentos toscos de que valha a pena existir por acaso. Mas tantos faz, seus olhos esvaídos por preocupações pueris não te deixariam enxergar o que quer que seja que eu queira dizer. E eu que não consigo te esquecer...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

É também o amor

" Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
"

I Coríntios 13, 9-11

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Hell - Paris 75016

" A felicidade é uma ilusão de ótica, dois espelhos que refletem entre si a mesma imagem ao infinito. Nem tente buscar a imagem original, não existe nenhuma. Não diga que a felicidade é efêmera. A felicidade não é efêmera. O sentimento que se sente e é tomado como felicidade quando se está apaixonado, quando se teve sucesso em alguma coisa, é uma liberdade condicional antes de conhecer a pena: o ser amado não se parece com nada, o que você conseguiu não serve para nada. Isso não a faz infeliz, mas consciente. A felicidade não acaba, ela apenas se retifica. Nós inventamos a luz, para negar a escuridão.

Colocamos as estrelas no céu, plantamos postes a cada dois metros nas ruas. E lâmpadas dentro de nossas casas. Apague as estrelas e contemple o céu. O que você vê? Nada. Você está diante do infinito que o seu espírito limitado é incapaz de conceber, de forma que você nada mais enxerga. E isso o angustia. É angustiante estar diante do infinito. Fique calmo; os seus olhos sempre encontrarão as estrelas obstruindo a trajetória deles e não irão mais longe. De forma que o vazio dissimulado por elas será ignorado por você. Apague a luz e arregale os olhos ao máximo. Você nada verá. Apenas a escuridão, a qual é mais percebida do que vista por você. A escuridão não está fora de você, a escuridão está em você. "

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O Mundo

Um homem da aldeia no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou — Um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo. - Eduardo Galeano

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

M de homem

Porque é de madrugada que te espero em um suspiro falso de ansiedade. Porque eu sei te esperar... E de lento, passa a lebre. Me olha por mais quatro meses, vai! Me marca mais que todas as promessas depois do quarto dia. Ele sabe o certo, você o quer. Então vem, que mais quatro meses de agonia vão me matar. Só diz oi, ou me olha de longe, e vem chegando, devagarinho... Até me encontrar e sorrir, ao balbuciar um inaudível: "senti saudades!" que vou fingir não acreditar pra que não pense que sou tão boba assim. Mas que vou adorar como a mais sincera das mentiras, e prometer a mim mesma não esquecer. Agora vem, que já tá tarde e eu preciso dormir, diz que vai estar lá e me esperar praquela conversa que não terminamos ontem, ficou pra hoje... Vai citando Nando Reis e me fazendo esquecer como é estar sem você, e eu já não vou querer mais saber.

domingo, 11 de setembro de 2011

Última noite, criança

Muito bem criança, me faz sorrir, faz! Me deixa preocupada que nem uma babaca, pra depois me fazer rir assim, sem dizer nada. Isso é errado, viu? E muito feio! Não se faz, e é desprezível. Como alguém no mundo ainda tem a falta de vergonha na cara de pensar em gostar de você? Ein? Me diz! Que eu realmente preciso entender dessa coisa chamada coração. Ou é cabeça, criança? Meu coração não tem culpa de bater, mas a lembrança das suas frases toscas são meu cérebro que traz. Maldito cérebro! Maldito você que me enfeitiçou! Maldita eu que acreditei que um dia pudesse ser feliz assim. Sem nunca poder estar. E você que vive se pondo... Vem me buscar, vem? E diz que só foi pra passar o dia comigo, e que não pode demorar, mas passa o dia na praia e a noite na sala de estar. Vem que o dia é curto, mas a noite está aí pra se atravessar. E do meu lado, a gente dorme. E de manhã, a gente vai. Vai pra não voltar jamais. Vai pra se perder pra sempre. Vai pra poder estar.

sábado, 10 de setembro de 2011

Homem

Zangado: O que você considera como homem?
Feliz: Homem é aquele que me faz feliz quando sou quem eu sou. Homem é aquele que me faz sentir mulher por estar com ele, não quando tenho que lhe provar o quanto está sendo imaturo. Homem é aquele que está disposto a correr riscos em busca do que quer, não simplesmente pisar até onde seu pé alcança. Homem é aquele que sabe me dar uma bronca quando esqueço de ser mulher e de estar comigo quando só quero ser uma menina. Homem é saber ser responsável por suas ações e nem por isso se sentir essencial ou necessário em tudo o que faz. Homem é saber ver onde estou errando e respeitar a minha individualidade de amadurecimento. E, principalmente, escolher estar comigo junto de tudo isso. Homem é saber filtrar todos os comentários e não ter vergonha das suas escolhas. Homem é ouvir a mulher nos dizeres de menina e tentar entender a profundidade de se enxergar grande mesmo quando se vê pequena. Homem é ter certeza do que quer e só querer quando tem certeza. Homem é se fazer presente mesmo quando longe. Homem é ter paixão pelo o que se busca e confiar no que se tem. Ser homem é viver sem ter vergonha de poder morrer amanhã.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Metade

Mas ele já estava quebrado, e de brincadeira virei brinquedo. Eu sei, eu sei, que talvez a intenção da criança não tenha sido jamais me machucar. Mas é impossível não machucar alguém quando já se está machucado. Não quando o assunto é o amor. Por mais que se tente distanciar, criar barreiras entre o que já foi e o que pode ser... Na verdade só o que conseguimos é uma confusão maluca de fatos incompletos tentando te completar, te enchendo de pedaços. Te deixando sem cola. E você fica perdido naquele meio todo até que alguém te puxe, e você me puxou, criança. Mesmo sem querer, mesmo querendo se equilibrar, você também me puxou. E depois parou. Olhou para o tempo e disse que talvez fosse chover. E se sentou na terra fria, esperando o cheiro da chuva. Para que você pudesse encher os pulmões e acreditar que foi tudo real. E eu sentei ali do lado, tentando te acompanhar. Tentando viver de novo também, procurando um chão que me sujasse, mas que me fizesse crer. E você achou que eu estava ali só seguindo seus passos, só por não ter mais aonde ir. Mas essa nunca foi a questão. Eu fui porque quis, eu fui porque quis crer nas palavras que um dia repeti pra alguém, palavras que você repetiu pra mim, criança. E eu não ia fazer, e eu não fiz, nada que não gostaria que fizesse comigo. Será que você entende?
E eu continuo aqui, sentada na terra, vermelha, esperando você sentar de novo. Pra poder ouvir seu nome, e te mostrar que não, não precisa deixar de acreditar que pode ser diferente. Porque eu não quero saber pra onde você vai, só se vai continuar pensando em mim, antes de dormir ou assim que acordar, pra me fazer crer que não fui só eu que sonhei. Eu também não estou inteira, mas eu não quis me dar pela metade, porque metade não me completa e eu te quero inteiro. Então espera viu? Espera a gente se completar pra que então você possa ser meu, só meu, mas meu inteiro. Eu não quero só meu sua única metade. Eu quero a outra parte, a parte que ficou naquele apartamento, que ficou junto com as mágoas e os desapegos... Eu quero você pra poder dizer é meu, e você com orgulho poder repetir: Graças a Deus.
Você parou, esperando que dessa vez eu fosse te levar, e eu amarrei uma pulseirinha na sua mochila criança, mas você não viu. E achou que eu fosse levantar e te deixar ali até que outro alguém parasse e quisesse te carregar. Eu não te deixei criança, foi você que não veio comigo. Eu te chamei lembra? Mas você ainda não estava pronto. Então espera, deixa só buscar um copo de água e a gente volta aqui, e deita no chão, daquele jeito que eu te ensinei... Não importa que a terra vá ficar no cabelo, daqui a pouco a chuva cai, e leva tudo, tudo mesmo criança... Até nós dois para um lugar melhor. Mas você tem que querer vir. Vem?

domingo, 14 de agosto de 2011

Só Meu

"Só o amor não concretizado é romântico..."
(Vicky Cristina Barcelona)

E pra que dizer? Faz que nem eu, faz! Só fica, que o silêncio é mais verdadeiro. Se não quer, não diz. Faz que nem eu, faz! Era bom não ter nada e só um verão pra aproveitar. Melhor que esse tudo e quase nada pra levar. Agora diz, pra que? Esse silêncio agora não é de paz, é de covardia. É do que eu não disse, mas que você nem admitiu querer, fingiu nem cogitar a hipótese. Era só dizer tchau. Era só não me pedir pra ficar, era só não me guardar pra te proteger do amor que ainda sente. Que eu sabia, que eu sei. Que eu nem ligava. E que você nunca me deixou esquecer. Quer dizer, melhor assim. Mas precisava disso tudo? Era só ter me deixado em casa. Depois do tchau.
É o trigo no campo, que parece balançar de novo, tão loiro quanto antes, tão velho quanto antes. Tão só que me deixa ir sem soprar no meu ouvido. Que não me vê ir embora, mas que ainda assim diz que correu pra me encontrar. Eu já conheço esse refrão, só meu. Eu já conheço esse refrão...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Vem!

Vem! Trás de novo aquela certeza dúbia de que ainda ia te ver cantar.
Vem! Me abraça vai, que seu canto traz saudade, mas o aperto de te ter por perto me dói muito mais.
Vem! Diz que me ama e mais aquele monte de coisas que eu sempre duvidei em que fosse acreditar.
Vem! Fica aqui só mais um pouquinho, não precisa se mexer, não precisa nem falar nada. Só fica. E me deixa a tarde roxa, e me deixa seu sorriso, me deixa um pouquinho de você que o frasquinho antigo já cansei de procurar! Sumiu. As suas fotos, os meus rabiscos, aquela velha canção... Nada! Quem foi que me tirou você assim? Eu falei pro tempo me avisar... Mas ele correu de novo, branco com a cartola, correu... E me deixou aqui, de vestido azul, me perguntando se grande ou pequena deixei de te procurar.

terça-feira, 5 de julho de 2011

A primeira letra do começo

Rabiscar seus olhos e colorir os pássaros lá de fora. Faz tanto tempo...
Acordes lidos e o som que não é tão literal. Parece até saudade...
Suas músicas, o seu sorriso, a minha boca e mais canções... Eu não me canso de imaginar.
Quantos dias faz que não te vejo? Eu já perdi a conta. Vai ver já nem sei mais contar...
Contar os cortes, os tropeços, o outubro passado... Vem de novo comigo?
Eu vejo tanta gente assim... Perdida, realista, como quiser chamar... Às vezes parecem pessoas sem nem saber do que lembrar! E é tão triste o olhar delas! E só o que me vem à mente são os olhos, de água, de águia, de falcão. De abraço, de carinho, de solidão. De meus, de seus, de querer de volta. Vem pra mim? E canta, que seu abraço ainda me vem... Traz de novo o aperto forte, mas não me espera pra soltar! Viaja comigo, imagina que a gente ainda pode voar!

domingo, 19 de junho de 2011

Ali

Tá ali do lado sabe? Logo ali e... Também tá tão distante... E pra que gritar “corre que eu estou chegando” se... bem, acho que já correu.
Vem devagarinho como que não quer nada, ou chega de supetão! Tanto faz, no fim a gente sempre vira a esquina sabe? E deixa lá atrás, que um dia encontro de frente. E aí vai ser um encontrão tão grande que a gente não vai poder fingir que não viu. E você vai sorrir e eu vou cair na gargalhada. Então talvez a gente se deixe passar, mas eu vou ter certeza que vi. Encarei de frente. E segui. Como sempre faço. Sem buscar explicações. Sem buscar ansiedades. Acompanhada de passos vazios. De peitos abertos. De solidão que diz. Vem, e corre! Que eu quero que passe logo, e me deixe dizer que eu também senti. Vai e passa! Que eu sei que não vai querer me acompanhar. Só diz que veio, e que não sonhei que ri. Ou que não vivi que “se”.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O dia que Júpiter encontrou Saturno

Foi a primeira pessoa que viu quando entrou. Tão bonito que ela baixou os olhos, sem querer querendo que ele também a tivesse visto. Deram-lhe um copo de plástico com vodka, gelo e uma casquinha de limão. Ela triturou a casquinha entre os dentes, mexendo o gelo com a ponta do indicador, sem beber. Com a movimentação dos outros, levantando o tempo todo para dançar rocks barulhentos ou afundar nos quartos onde rolavam carreiras e baseados, devagarinho conquistou uma cadeira de junco junto a janela. A noite clara lá fora estendida sobre Henrique Schaumann, a avenida poncho & conga, riu sozinha. Ria sozinha quase o tempo todo, uma moça magra querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz. Molhou os lábios na vodka tomando coragem de olhar para ele, um moço queimado de sol e calças brancas com a barra descosturada. Baixou outra vez os olhos, embora morena também, e suspirou soltando os ombros, coluna amoldando-se ao junco da cadeira. Só porque era sábado e não ficaria, desta vez não, parada entre o som, a televisão e o livro, atenta ao telefone silencioso. Sorriu olhando em volta, muito bem, parabéns, aqui estamos.

Não que estivesse triste, só não sentia mais nada.

Levemente, para não chamar atenção de ninguém, girou o busto sobre a cintura, apoiando o cotovelo direito sobre o peitoril da janela. Debruçou o rosto na palma da mão, os cabelos lisos caíram sobre o rosto. para afastá-los, ela levantou a cabeça, e então viu o céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Vista assim parecia não uma moça vivendo, mas pintada em aquarela, estatizada feito estivesse muito calma, e até estava, só não sentia mais nada, fazia tempo. Quem sabe porque não evidenciava nenhum risco parada assim, meio remota, o moço das calças brancas veio se aproximando sem que ela percebesse.

Parado ao lado dela, vistos de dentro, os dois pintados em aquarela - mas vistos de fora, das janelas dos carros procurando bares na avenida, sombras chinesas recortadas contra a luz vermelha.

E de repente o rock barulhento parou e a voz de John Lennon cantou every dau, every way is getting better and better. Na cabeça dela soaram cinco tiros. Os olhos subitamente endurecidos da moça voltaram-se para dentro, esbarrando nos olhos subitamente endurecidos dos moço. As memórias que cada um guardava, e eram tantas, transpareceram tão nitidamente nos olhos que ela imediatamente entendeu quando ele a tocou no ombro.

-Você gosta de estrelas?
-Gosto. Você também?
-Também. Você está olhando a lua?
-Quase cheia. Em Virgem.
-Amanhã faz conjunção com Júpiter.
-Com Saturno também.
-Isso é bom?
-Eu não sei. Deve ser.
-É sim. Bom encontrar você.
-Também acho.

(Silêncio)

-Você gosta de Júpiter?
-Gosto. Na verdade "desejaria viver em Júpiter onde as almas são puras e a transa é outra".
-Que é isso?
-Um poema de um menino que vai morrer.
-Como é que você sabe?
-Em fevereiro, ele vai se matar em fevereiro.

(Silêncio)

-Você tem um cigarro?
-Estou tentando parar de fumar.
-Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?
-Eu.

(Silêncio)

-Como é que você sabe?
-O quê?
-Que o menino vai se matar.
-Sei de muitas coisas. Algumas nem aconteceram ainda.
-Eu não sei nada.
-Te ensino a saber, não a sentir. Não sinto nada, já faz tempo.
-Eu só sinto, mas não sei o que sinto. Quando sei, não compreendo.
-Ninguém compreende.
-Às vezes sim. Eu te ensino.
-Difícil, morri em dezembro. Com cinco tiros nas costas. Você também.
-Também, depois saí do corpo. Você já saiu do corpo?

(Silêncio)

-Você tomou alguma coisa?
-O quê?
-Cocaína, morfina, codeína, mescalina, heroína, estenamina, psilocibina, metedrina.
-Não tomei nada. Não tomo mais nada.
-Nem eu. Já tomei tudo.
-Tudo?
-Cogumelos têm parte com o diabo.
-O ópio aperfeiçoa o real
-Agora quero ficar limpa. De corpo, de alma. Não quero sair do corpo.

(Silêncio)

-Acho que estou voltando. Usava saias coloridas, flores nos cabelos.
-Minha trança chegava até a cintura. As pulseiras cobriam os braços.
-Alguma coisa se perdeu.
-Onde fomos? Onde ficamos?
-Alguma coisa se encontrou.
-E aqueles guizos?
-E aquelas fitas?
-O sol já foi embora.
-A estrada escureceu.
-Mas navegamos.
-Sim. Onde está o Norte?
-Localiza o Cruzeiro do Sul. Depois caminha na direção oposta.

(Silêncio)

-Você é de Virgem?
-Sou. E você, de Capricórnio?
-Sou. Eu sabia.
-Eu sabia também.
-Combinamos: terra.
-Sim. Combinamos.

(Silêncio)

-Amanhã vou embora para Paris.
-Amanhã vou embora para Natal.
-Eu te mando um cartão de lá.
-Eu te mando um cartão de lá.
-No meu cartão vai ter uma pedra suspensa sobre o mar.
-No meu não vai ter pedra, só mar. E uma palmeira debruçada.

(Silêncio)

-Vou tomar chá de ayahuasca e ver você egípcia. Parada do meu lado, olhando de perfil.
-Vou tomar chá de datura e ver você tuaregue. Perdido no deserto, ofuscado pelo sol.
-Vamos nos ver?
-No teu chá. No meu chá.

(Silêncio)

-Quando a noite chegar cedo e a neve cobrir as ruas, ficarei o dia inteiro na cama pensando em dormir com você.
-Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você.
-Vou te escrever carta e não te mandar.
-Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
-Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
-Vou ver Saturno e me lembrar de você.
-Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
-O tempo não existe.
-O tempo existe, sim, e devora.
-Vou procurar teu cheiro no corpo de outra mulher. Sem encontrar, porque terei esquecido. Alfazema?
-Alecrim. Quando eu olhar a noite enorme do Equador, pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida.
-E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.

(Silêncio)

-Mas não seria natural.
-Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
-Natural é encontrar. Natural é perder.
-Linhas paralelas se encontram no infinito.
-O infinito não acaba. O infinito é nunca.
-Ou sempre.

(Silêncio)

-Tudo isso é muito abstrato. Está tocando "Kiss, kiss, kiss". Por que você não me convida para dormirmos juntos.
-Você quer dormir comigo?
-Não.
-Porque não é preciso?
-Porque não é preciso.

(Silêncio)

-Me beija.
-Te beijo.

Foi a última pessoa que viu ao sair. Tão bonita que ele baixou os olhos, sem saber sabendo que ela também o tinha visto. Desceu pelo elevador, a chave do carro na mão. Rodou a chave entre os dedos, depois mordeu leve a ponta metálica, amarga. Os olhos fixos nos andares que passavam, sem prestar atenção nos outros que assoavam narizes ou pingavam colírios. Devagarinho, conquistou o espaço junto à porta. Os ruídos coados de festas e comandos da madrugada nos outros apartamentos, festas pelas frestas, riu sozinho. Ria sozinho quase sempre, um moço queimado de sol, com a barra branca das calças descosturadas, querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz.

Mordeu a unha junto com a chave, lembrando dela, uma moça magra de cabelos lisos junto à janela. Baixou outra vez os olhos, embora magro também. E suspirou soltando os ombros, pés inseguros comprimindo o piso instável do elevador. Só porque era sábado, porque estava indo embora, porque as malas restavam sem fazer e o telefone tocava sem parar. Sorriu olhando em volta.

Não que estivesse triste, só não compreendia o que estava sentindo.

Levemente, para não chamar a atenção de ninguém, apertou os dedos da mão direita na porta aberta do elevador e atravessou o saguão de lado, saindo para a rua. Apoiou-se no poste da esquina, o vento esvoaçando os cabelos, e para evitá-lo ele então levantou a cabeça e viu o céu. Um céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Visto assim parecia não um moço vivendo, mas pintado num óleo de Gregório Gruber, tão nítido estava ressaltado contra o fundo da avenida, e assim estava, mas sem compreender, fazia tempo. Quem sabe porque não evidenciava nenhum risco, a moça debruçou-sena janela lá em cima e gritou alguma coisa que ele não chegou a ouvir. Parado longe dela, a moça visível apenas da cintura para cima parecia um fantoche de luva, manipulado por alguém escondido, o moço no poste agitando a cabeça, uma marionete de fios, manipulada por alguém escondido.

De repente um carro freou atrás dele, o rádio gritando "se Deus quiser, um dia acabo voando". Na cabeça dele soaram cinco tiros. De onde estava, não conseguiria ver os olhos da moça. De onde estava, a moça não conseguiria ver os olhos dele. Mas as memórias de cada um eram tantas que ela imediatamente entendeu e aceitou, desaparecendo da janela no exato instante em que ele atravessou a avenida sem olhar para trás.

(Caio Fernando Abreu)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Caro Doutor,

E de manhã quando acordo, é a savana africana que bate em cima do meu teto. Os fios quentes me aprisionam, me acorrentam feito presa cuja morte é inevitável. E de lá eu não saio. Por decreto eu não questiono, mas quem vai me decretar? Sou só eu aqui, nova e cheia de neologismos desconcertantes. E não se esqueça de meus pontos! De minhas páginas famosas e de que vai me fazer sorrir quando te vir na fila. Não se esqueça da dedicatória e do “quem sabe aquelas questões tenham valido pelo menos para que você pudesse se redescobrir.” E do meu “obrigada e dispenso. Ps.: mas aceito os meus pontos no CR que vem pra aumentar minha média.” E o seu sorriso de agradecimento, afinal, eu assinei. Sim, e meus olhos piscam e eu finalmente acordo. Mas o sonho continua, e de manhã, ou quem sabe amanhã, eu comece a escrever...

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Samba da Despedida

E diz que é mentira, que não aconteceu, que não é comigo, que eu posso esquecer e voltar a dormir. Diz pra mim! Diz que não sentiu, que não sente e que não vai sentir. Não sobe o meu ego não vai! Leva ele pra longe, pra baixo, pra sarjeta ou pro inferno se necessário. Inferno aliás, é inverno no Rio! Sem edredom, brigadeiro e o abraço. Aaaah, o abraço! E aquele perto que parece longe só pra acabar com a distância que sufoca na proximidade. Sufoco, aliás, é tentar se desculpar por algo que nem se fez ainda. Mas me entenda meu caro amor, eu amo assim, largado, sozinho e sem colo. Comigo e bem acompanhado, você já tem quem te ninar... E eu fujo, fujo meu bem, de colo ocupado. Não quero ocupar o lugar de quem já te pertence! Deixa o cantinho dela te acompanhar. E te largo aqui, pra voltar pro samba. Eu sei o que é um desamor, e eu sei que é pecado. Mas me entenda meu caro amor, eu amo assim, buscando um colo desacompanhado. Se quiser, vem me buscar, e nossos pés se encontram na passarela. Só não se esqueça que o fim da noite pertence ao sol e não volto pra casa com o namorado dela. Só não se esqueça que o fim da noite pertence ao sol e não volto pra casa com o namorado dela...

sábado, 14 de maio de 2011

Embriagada

Diz que vai sentir falta do meu sorriso de manhã e do quarto tão desarrumado... Mesmo que seja só pra depois se desmentir quando eu já não quiser mais falar nada. Mesmo que seja só pra arrancar um sorriso besta meu, de incrédula, lógico. Mesmo que dessa vez seja só mais uma das mentiras não sinceras que nos últimos dias eu não quis acreditar. Mesmo que seja só pra que eu possa te abraçar forte, aperto, carinho, amasso, mesmo que só desculpa... Mesmo que só mentira. Mesmo que só você. Mesmo que daqui pra frente o ‘eu te amo de manhã’ fique pra de noite, pra de madrugada, pra bebedeira e o mole do telefone em minha cabeceira. Mesmo que o meu erro tenha sido não poder mais te amar. E o seu, querer amar demais. Demais de mim. Demais pra mim. Demais de quem quer que seja que lhe tenha encontrado.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

" E quando ele riu, eu percebi. Eu
percebi que eu estava na merda."

- Tati Bernardi

domingo, 1 de maio de 2011

Canta?

Foi hoje, quando bati na porta errada, quando eu vi a porta aberta, quando foi você quem abriu. Quando não foram seus olhos, mas meu peito que saltou para longe e não quis te encarar. E as palavras grudaram, teias em minha mente. E algo de você grudado em mim. E eu que só quis fugir... E eu que só quis correr... Mas já nem sei pra onde. E já nem sei de que...
De repente só queria aquele abraço e o beijo de despedida, leve, intenso, meu. E o sorriso bobo, e o olhar profundo. Olhos que meu lápis desenhou. Boca que me disse gostar, gostar do olhar, gostar da mão, gostar de quem riscou. Mas que tola, também deixei escapar. Por que tem que ser assim? Tão meu, tão dela. Tão longe...
E você? Que me fez sentir medo? Que me fez querer de novo a casa? Que me fez querer de novo outubro... E eu que já tinha esquecido... E ele que já nem sabe mais de quem é...
E agora assim, frio, pés, madrugada e meu sono distante que insiste em escapar. E o pesadelo de te ver nos sonhos, e a raiva dele nunca estar lá pra me salvar. E a raiva de continuar aqui, e a raiva de qualquer um que não sabe nem ao menos conversar... E o filme? E a melodia? E aquela tarde? E o sol que se foi com o céu lilás, e as mãos juntas naquela mesa de jantar, e não sei quem perguntando como ela estava... E eu que nunca nem beijei. E o beijo que queima em meu pescoço. E o 'e se' que nem me segue por aí... E o ciúmes que ela nem tem motivo pra sentir... E o pra sempre dura quanto? E aquela música que eu nem vi terminar... Canta?

domingo, 24 de abril de 2011

Pois é...

Quem inventou a escada rolante? Degraus que se movem. E depois falam de loucura. Pessoas subindo e descendo em escadas rolantes, elevadores, dirigindo carros, tendo portas de garagem que se abrem ao tocar de um botão. Depois elas vão para as academias queimar a gordura. Daqui a 4.000 anos, não teremos mais pernas, nos arrastaremos sobre nossas bundas, ou talvez só rolemos como tumbleweeds. Cada espécie destrói a si mesma. O que matou os dinossauros foi que eles comeram tudo à sua volta e depois tiveram que comer uns aos outros e com isso só um restou e o filho da puta morreu de fome. - Bukowski

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Diz a verdade que eu quero ouvir

Diz, diz que é verdade. Inventa. Convence. Seduz. Sorri. E vem. Vem que também quero acreditar. Me espere chegar bem perto. Me espere de sobrancelha erguida. Me espere já sabendo o que dizer. E diga. Derrame tudo de novo. Depois pare. Me deixe rir. Me deixe ver. Me deixe sentir toda a pena que pra você é perdão. E então me deixe dizer o quanto você conta de uma boneca a qual inventou. Do quanto não existe a importância que agora te importou. Do quanto eu posso continuar sorrindo, independente do que você diga.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

" Mas homem de verdade
não se faz só com palavras."

Hoje foi só realidade

Acordei. Sim, hoje não foi cinismo, não foi cansaço, não foi doidera. Hoje foi só realidade. Vai ver até decepção.
Hoje senti pena, senti perda, senti perdão.
Hoje me disse que tudo mudou e que eu não deveria mudar. Mas que sem mudar, acabei mudando. Que sem querer, acabei fazendo. Que sem buscar, encontrei.
Hoje vi mentiras mais verdadeiras que todas as verdades que eu possa afirmar. Hoje vi uma só que se tornou um monte. Hoje eu me vi um monte. E quis o monte virando montanha e implodindo em mim de novo. Mas montanha não implode, e eu de uma, convivo comigo mesma. Um eu que não pude nem ao menos criar. Um eu que história minha não tem, que não me lembra, que não existe em mim. Um eu que tem vindo a minha frente e mesmo assim tem conseguido me atropelar. E eu de pena, continuo a observar cordas e mais cordas se enrolando. E eu de boba, continuo deixando o fio se desenrolar. Desenrolando o carretel inteiro um dia a fita acaba, um dia se assopra a palha, um dia a casa cai. E eu de lobo derrubo, e eu de vermelho também sou devorada. E não importa, a ciranda continua misturando os personagens. Um dia chego ao fim. Quem sabe eu, quem sabe alguém, quem sabe o que inventaram de mim.

sábado, 12 de março de 2011

E vem como o mar...

O cabelo sujo, mas era só água... água dos seus olhos a me escorrer.
Água que nem vi passar. Mas que carregou barco em correnteza.
Olhos de ressaca... os meus, os seus... os olhos... que olhos?
Pés descalços, minha nudez quase sua.
Sombras bastardas, e quem liga pra elas?
Passos leves, o peso de seu corpo ao lado meu.
- Eu... que bom te encontrar.
- Espera, não fala. Antes eu preciso...
Curvas ao som do mar. Uma corrida, um mergulho, um sorriso. E você vem, lavar a alma. Sem bordões, motivos ou pretextos. Levar o grunhido soluçante de boates. O cheiro forte de pessoas à procura de um disfarce. As perguntas de vitrola, sempre as mesmas ao som de hits. Piscar de luzes e escuridão de almas. Pouca importância... Afinal, quem quer saber aonde moro? Foda-se a minha universidade ou o que vou fazer no carnaval. E a cor? E a televisão de madrugada? E a canção que não sai da cabeça? Vem me consolar, vem de novo pra eu saber do seu dia, vem que todo papo parece fútil e nada especial.

Vem que a praia de manhã não foi feita pra uma pessoa só...

sexta-feira, 11 de março de 2011

Um bocado demais de mim,

e um pedacinho seu...

Dizem que às vezes as meninas são estranhas. Quase sempre. Mas hoje está difícil até pra mim me entender. Tudo tão certo, tudo tão errado. E um esforço muito grande pra me esconder. Uma vontade muito grande de me entregar. Tanto que pensamentos me assustam. Tanto que já não sei se sou eu ou é você. Em uma ciranda de clichês de amor que tem fim. Ou se quisá houve amor... E vou me perdendo em flashes só meus. Me esquecendo dos braços a me cercar. Me agarrando ao seu sorriso falso. Me contorcendo em mentiras tortas. Me tornando quase irreal em verdades hipócritas, com as quais quero até me enganar. Me deixando seduzir mais uma vez por minha imaginação. Tão irrelevantemente certo. Tão óbvio. Tão meu...

domingo, 27 de fevereiro de 2011

" O que a lagarta chama de morte,
o sábio chama de borboleta. "

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

DezAcompanhada

Essas portas de rangidos ensurdecedores...
Esses dias de queixas indecifráveis...
O som de lágrimas e o silêncio de lamentações.
Tudo, tudo parece lamuriar uma falta que ainda não ocorreu.

Nos dias, correndo um medo que nem motivo encontrou.
Na vida, sinais sem previsões.
Nos cortes, dor fosca.
Nos lábios, seu cheiro.

E o mau agouro em asas de anjo.
E minha presença ausenciando futuro.
E você que nem passado rasgante.

Agora só, de solidão.
De companhia, auspício.
E de presença, o desacompanhar.

sábado, 15 de janeiro de 2011

O Poeta Aprendiz - Vinícius de Moraes

" ... achava bonita a palavra escrita.
Por isso sofria.
Da melancolia
De sonhar o poeta
Que quem sabe um dia
Poderia ser. "

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O mar e só

O vento lá fora continua calmo e a serenidade parece persegui-la. Carros por esquinas velhas e canções que já nem se lembra o nome. Tudo, tudo parece tão antigo quanto o princípio dos tempos. Como construções egípcias ou obras gregas. Parecem tão perfeitamente intactos todos aqueles passos por alamedas... Mas aqueles frutos que verdes viu no pé sugerem-lhe perseguição.

E ela que anda fugindo dessas remotas lembranças... Que nem ao menos lhe dão o prazer de envelhecer. Desbotar. Corroer. Cair. Romper. Abandonar. Pelo contrário, seus tempos cheios de anti-horário voltam e voltam e voltam e vão bailando uma valsa eterna de sentimentos e passos que já não lhe pertencem.

Os dias tornaram tudo limpo e a poeira que devia a tudo cobrir parece ter se esquecido de levantar. A cada manhã menos se recorda e o que era triste já nem sabe... Tem passado tanta coisa!

Contudo, as mudanças vesgas não deixam de cumprir seus destinos. E o som de sinos tilinta crescente desde a porta de casa. Segue seus rastros e ronrona sua companhia. Daí então só mais alguns passos para que ouçam gargalhadas sós com o mar. Gargalhadas sós e o mar. Gargalhadas sós e o mar. O vento batendo forte sobre os cabelos e a água que torna o corpo ilha sem arquipélago. O mar e sós, gargalhadas deixam de ecoar.