quinta-feira, 1 de julho de 2010

Dezenove

Abro os olhos, conto um a um: dezenove pela janela, eles sorriem. Canela, um pouquinho de avelã, tão meu, tão familiar que o peito até dói. Nada de lembranças, nada que me faça correr, apenas o gosto estranho de sono bem dormido. Minhas mãos apertam os lençóis. Mas logo me encolho e me estico, meus dedos tocam os olhos, meus dentes mordem os lábios, são eles que estão indo. Dezessete eu já tenho, mas quantos verei quando tiver dezenove? Talvez eu nem saiba mais contar... Vai ver serão os mesmos, mas mesmo assim eu não os veja. Talvez eles cantem, ou me gritem até enrouquecer... Quem sabe eu fique surda. Talvez entrem mais pelo vidro que irei ganhar ou vai ver eu os prenda em uma garrafa. Não, não, eles vão estar lá. Vão com suas cores, vão por minha sombra. Eles vão comigo. Talvez eles cresçam, ou quem sabe encolham, mas ainda assim, sempre estarão por perto. Além do mais, pela janela ela também me vê. E ela eu sei, nunca nem pode me deixar. Meus dentes me apertam de novo, não me lembro quando ele sorriu pela última vez com as palavras, mas elas estavam correndo outra vez. Ainda bem, eu também preciso delas.

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